Publicado em 13/09/2012 11:39

Para Inhumas: Um Exemplo de Vida, Luta e Cidadania

Dona Maria Aparecida, traz na pele, no olhar e no otimismo, sinais que testemunharam lutas e vitórias, sobretudo fé, em seus mais de 102 anos vividos, diga-se de passagem, e bem vividos.

Caro leitor, a presente nota trata de uma descoberta social histórica para o município de Inhumas. Dona Maria Aparecida de Souza, conhecida na intimidade por Marione, residente na Vila Jandira, traz na pele, no olhar e no otimismo, sinais que testemunharam lutas e vitórias, sobretudo fé, em seus mais de 102 anos vividos, diga-se de passagem, e bem vividos.

A mineira de São Sebastião do Paraíso deixou sua terra natal ainda criança. Coube ao estado de São Paulo acolhê-la logo após ter perdido sua mãe por males decorrentes do parto.

Sua infância não foi das melhores. A pequena, com cerca de 4 anos, se agigantava nas tarefas tratadas por seu pai com fazendeiros da região de Santana dos Olhos D’Água (SP). A pele de seu corpo não foi poupada da navalha dos capinzais; suas pequenas e delicadas mãos se enrijeceram no manuseio da foice e do machado a debruçar sólidas matas destinadas ao roçado. Sua meninice foi, de fato, sufocada pelo trabalho, pelo castigo e pela obrigação de nunca ter que ser criança.

Sua mocidade foi modesta. A pequena Maria Aparecida cresceu na “terra da garoa” sob o olhar de portugueses, espanhóis, italianos, japoneses, nortistas e nordestinos, especificamente, em uma colônia de agricultores, artífices do cultivo do café. Na colônia foi descobrindo sinais de felicidade, aprendeu a dançar pagode (forró) e a sorrir e a amar.

A crise de 1929 reservou-lhe grandes momentos, reverberando alegria e tristeza ao mesmo tempo. Maria Aparecida, com 19 anos de idade casou-se com José Wenceslau Pereira, foi uma festa só. Contudo, por força dos desígnios do Criador, sem completar um ano de casamento e com a primogênita no colo, a mineirinha conheceu a viuvez, isso foi tristeza só.

A saga em busca pela sobrevivência, honra e dignidade, motivou sua mudança para Inhumas. Aqui chegando foi acolhida por alguns inquilinos da ‘terra das Inhumas’: Bibi, Brandão, Palmeira, Roriz, entre outros.
Sua disposição para o trabalho deixava os patrões perplexos. A mulher não se intimidava em ter que derrubar a mata, bater pasto, arrancar toco, rachar lenha e tirar mancos para a construção de cercas.

Dona Maria Aparecida é testemunha viva de um Brasil em construção. Lateja, em sua memória, imagens vivas de revoltosos ligados à Coluna Prestes, invadindo os lares e impondo o temor (1927);  dos impactos da crise de 1929, levando a queima maciça de café; da ascensão de Getúlio Vargas através da revolução de 1930; dos ‘pracinhas” brasileiros embarcando com destino à Europa, para a Grande Guerra; enfim, sentiu tristeza em inteirar-se do suicídio de Getúlio Vargas em 1954.

Sua memória não menospreza a história da terra que a acolheu. Lembra-se perfeitamente da juventude, da garra e da vontade de homens que renunciaram parte de sua vida para construírem  a história da cidade. Dona Maria se orgulha em citar nomes como os de Nelo Balestra, Fiim Palmeira, Firmo Luiz, Domingos Garcia, Irondes José de Morais, José Essado, Dr. João Antônio, Luiz Otávio e Abelardo Vaz Filho, prefeitos que contribuíram para o desenvolvimento municipal, seja com maior ou menor intensidade. Seu espírito de idealismo e cidadania é tão extraordinário que apesar de não lhe ser conferido a obrigação do exercício de voto, ela se predispõe a participar efetivamente dos pleitos políticos, sejam eles de nível nacional, regional ou local. Mesmo não escondendo sua condição de analfabeta, dona Maria Aparecida afirma que é prazeroso acordar cedo e se dirigir para a urna de votação. Felicidade maior sente quando vê o candidato, o seu escolhido, estampado na tela daquela em que se depositam não só votos, mas esperança de dias melhores, sobretudo, expectativa de igualdade, justiça e respeito ao cidadão inhumense.

A ‘pequena’ mineira após mostrar todos os comprovantes de votação, despede-se com olhos teimando em não marejar. Desejando a proteção de Deus a todos os candidatos, sobretudo aos eleitores que irão exercer seu papel de cidadania, dona Maria encerra a manhã de diálogo, com uma convicção  de ideal fantástica: “Se Deus quiser o bom prefeito vai ser eleito, o escolhido vai ocupar a cadeira da prefeitura, se Deus quiser e se Deus permitir, em outubro eu vou estar lá para votar no meu prefeito, se Deus quiser.Cleumar de Oliveira Moreira

Dona Maria Aparecida, traz na pele, no olhar e no otimismo, sinais que testemunharam lutas e vitórias, sobretudo fé, em seus mais de 102 anos vividos, diga-se de passagem, e bem vividos.

Notícia publicada no Jornal O Goianão ano 33, n. 483 página 5.

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