O canto do pracista 7º cap.
A partida de Tereza se consumou. Numa noite de grande chuva do dia quatro de outubro de 1983 Tereza partiu e deixou seu amor
Mas diante de suas tentativas de sucesso, Nelson tinha que apesar da frustração se manter firme. Criar dez filhos não foi brincadeira. Além deles ainda havia crianças de vizinhos, de parentes que estavam sempre a freqüentar a casa do casal.
A geladeira vivia sempre cheia de marcas de mãos sujas de graxa. A casa nunca ficava limpa; pois era um entra e sai sem medidas. Pela deficiência visual de Tereza sempre havia ajudantes na casa. Durante as traquinagens cometidas pela molecada podia ser ouvido pela casa toda as gargalhadas dos pestinhas. Muita gente de Inhumas vivia sempre por ali. As amigas mais freqüentes, amigos e fregueses.
Todos estudavam e trabalhavam. O momento especial para essa turma era quando Tereza na sua bondade de alma resolvia dar banho e cuidar de MARIA PETECA. Ela uma portadora de deficiência mental, que vivia em Inhumas e em seus repentes se alguém a chamasse de MARIA PETECA ela levantava as saias e como nunca usava roupas íntimas. Então tinha aqueles senhores conservadores da época, que pegavam pedaços de corda de bacalhau e açoitava a pobre mulher até que lhe sangrasse o corpo.
Tereza pedia que a buscassem e lhe dava banho, colocava roupas e lhe dava o que comer .Era ela a protegida de Tereza. A turma de meninos estudaram no Instituto de Educação sob a direção de um homem muito competente e exigente conforme a educação da época.
Ele era criativo. Na época do aniversário de Inhumas todos os alunos tinham ocupações pois teriam que representar a escola no seu mais alto grau.
O ANIVERSÁRIO DE INHUMAS
Dia 19 de março era especial. Desfile pelas ruas, banda, gincanas, atos cívicos inundavam a cidade. Era tudo preparado com a alma de nossos estudantes e mediante a orientação do SENHOR DIRETOR.Tenho certeza que ele conseguiu deixar impregnado em seus alunos, valores morais e éticos que jamais foram esquecidos...os quais seriam imprescindíveis em suas formações como cidadãos bons para suas famílias e sucessivamente para a sociedade como um todo.
A prefeitura organizava na cidade as corridas de kart que acontecia na Praça São Sebastião. Era o máximo... tinha também as corridas de motocross. Os rapazes eram ídolos e as moças se arrumavam por horas para verem seus heróis participarem destas aventuras radicais. Na quadra de esportes aconteciam as gincanas escola x escola. Esta turma não pode negar tiveram uma adolescência de fazer inveja.
Os filhos foram casando... a casa continuava sempre cheia. E o amor do casal foi sobrevivendo aos obstáculos. Nelson tinha um grande sonho... FAZER UM CURSO SUPERIOR, mas só mais tarde é que este sonho se realizaria.
Com o passar do tempo os filhos foram crescendo. Tereza em meio a confusão de agora ter em casa sete rapazes, gostava de brincar com os filhos. Brincava de lutar com aqueles rapagões e eles aproveitavam a fragilidade da mãe e muitas vezes a derrubava no chão e a sujava toda com a poeira vermelha da rua João Jorge Sayum. As risadas ecoavam pelo vento trazido pelo balanço forte de um pé de ficus( árvore de grande porte com raizes aéreas) que havia na lateral do terreno. Os filhos tinham na mãe a amizade e cumplicidade. A mente de Tereza estava à frente de seu tempo pelos menos uns cinqüenta anos; por este motivo ela conseguia brincar com os filhos homens como se não tivesse nenhuma deficiência e era como se suas idades fossem a mesma . Ela era uma mulher vaidosa, gostava de estar sempre de banho tomado, unhas feitas usando sua fragrância de perfume preferida, leite de rosas. A temperatura de sua pele era bem fria, isso fazia que ela sempre tivesse uma pele clara dotada de um frescor natural.Em meio a tantas brincadeiras e molecagens , Tereza vivia ali com seu amor Nelson e filhos, netos, e amigos.
Certa noite Tereza teve um sonho com uma antiga amiga já falecida, e que dizia a ela que uma doença incurável estava por vir. Mas nada mudou o curso do destino... a vida não teve clemência. Tereza logo descobriu que estava doente estava acometida por ca. Tento aqui descrever, o sentimento que explodiu em seu peito ao saber da gravidade da doença.
O QUARTO
O quarto que existe em minha mente...
Estou neste quarto, esperando que alguém me tire dele. Nele as sombras e o vento gelado percorrem todo o seu espaço... sinto que estou num lugar longe do chão...nele só sinto solidão... A noite prevalece sobre o dia, e o sol... nem aparece para iluminar as trevas que me rodeiam... Sinto meus cabelos embaraçados... há dias não os penteio... pois eles se soltam no chão.Não tenho vontade de lavar meu corpo... sinto que estou mutilada... Quero acordar mas não consigo... só me lembro de meu pai...
Da menina que ficou trancada no quarto... Longe de seus irmãos... quero acordar e não consigo... estou trancada no quarto da minha mente... um vagalume quebra a escuridão... e vejo que não estou só... Sinto o prazer de estar no colo... acalentada pelo criador... O quarto da minha mente mentiu... DEUS ESTEVE SEMPRE JUNTINHO DE MIM...
Como um pássaro que entoa seu canto triste por detrás de uma maldosa gaiola... Tereza viveu sua dor... a vida esvaía pelo sopro do vento... Com os ossos insalubres como o deserto... ainda queria viver por amor... Lutou, lutou,lutou... a dor resistiu...as trevas ela iluminou...seu sol brilhou...
E em meio ao nevoeiro da doença que lhe sugava a vida... Veio a menina borboleta... Com vôos rasantes sobre o leito de dor... No rosto pálido de sua mãe... soprou... O hálito da menina se fez presente e Tereza sorriu...
Estava ela diante do criador... Seu fio de prata se quebrou... e fez calar o canto da andorinha que vivia em seu ser... Deixou seu amor ... triste... com o coração cheio de dor...
A indagar todos os dias de sua vida: _ onde estará meu amor?
A partida de Tereza se consumou. Numa noite de grande chuva do dia quatro de outubro de 1983 Tereza partiu e deixou seu amor... triste, sozinho, sem mesmo ter voz para cantar... a pessoa que encantou a sua vida o deixara sem mesmo se despedir. Somente suas dores e angustias permaneceram entre as paredes da casa. E seus filhos puderam sentir a dor de ficarem órfãos...

Mara Arantes Costa
Nasceu em Inhumas aos 24 dias do mês de dezembro de 1958, filha de Nelson Arantes Costa e Terezinha Lôbo Costa.Busca transmitir aos inhumenses a importância dos fatos históricos ocorridos e fundamentaram o passado da história dos cidadãos inhumenses. Busca mostrar a força contida nos filhos da cidade das Goiabeiras.
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