Publicado em 22/08/2011 06:40

Arte no centro-oeste

A História da arte moderna e contemporânea de Goiás tem mais ou menos 60 anos

A História da arte moderna e contemporânea de Goiás tem mais ou menos 60 anos se contar-mos como sendo o ano de 1950 a chegada de frei Nazareno Confaloni à cidade de Goiás, vindo da Itália e trazendo para nossa região o legado e a maestria da terra do renascimento; em 1954 pode-se dizer que a nossa “semana de arte moderna” chega com a realização em Goiânia do primeiro congresso internacional de intelectuais (14 a 21 de fevereiro), que reuniu em nossa capital grandes nomes da cultura nacional e internacional: Jorge Amado, Mario Schemberg, Maria della costa, Djanira e tantos outros grandes nomes do Brasil, África, Argentina, o grande Pablo Neruda, do Chile, enfim, veio pessoas do Haiti, Itália, Paraguai, Portugal e Uruguai..., neste mesmo ano de 1954, em dezembro já estava em funcionamento a escola  goiana de belas artes aprovada pelo conselho nacional de educação tendo como professores e artistas tais como Luiz Curado (diretor), Henning Gustav Ritter, Jose Veiga, Antonio Peclát e o próprio Nazareno Confalone; em 1956 chega de São Paulo  mestre D.J. Oliveira, artista nascido em Bragança e em seguida aporta entre nós o grande Cleber Gouveia que também se integram ao corpo docente da escola de belas artes. Mas, entretanto, no amalgama cultural de Goiás a presença de uma grande mulher arrebata o mundo da arte em nosso estado, trata-se de Célia Câmara; Marchand formada na escola do coração e do amor à arte marcou para sempre sua passagem com altruísmo cultural no nosso meio artístico; de principio fundou a lendária galeria casa grande ainda na década de 70 onde fez convergir grandes momentos da arte em Goiás. Esta mulher dotada de uma imensa sensibilidade e carisma cultural único na historia das artes visuais destas plagas do centro-oeste brasileiro fez de seu tempo algo incomum para a arte local..., e eu falo desta abnegada marchand e mecenas com muita naturalidade, pois tive o prazer de conhecê-la, e que muito me incentivou em minha carreira artística, assim como muitos de meus colegas artistas que hoje sobrevive do metier. Lembro-me com muito carinho de quando Célia Câmara não gostava de algum trabalho de um aspirante à artista, ela com muito cuidado para não melindrar uma alma sensível dizia: “o quem tem neste trabalho que não consegui compreender?”; era uma dama de fino trato, amava a arte incondicionalmente. No final da década de 90 retornando de uma viagem à pérsia Célia passou por Atenas (onde eu residia) para me fazer uma visita, na época eu não pude encontrá-la, pois me encontrava em Bolonha na Itália realizando uma exposição e não pude ter o prazer de ciceronea-la na terra de Ulisses; quando eu soube de sua morte ao telefonar para Dalva da Paixão na fundação Jaime Câmara de Goiânia, eu estava em Veneza (Itália) e no centro da Piazza Sam Marco entre pombos esvoaçantes e turistas eu fiz uma oração em honra de sua alma de artista, agradecido por muitas coisas que ela fez por mim, inclusive a de ter deixado agendado uma exposição de meus trabalhos pintados na Grécia para a Fundação Jaime Câmara na época, ela saia de cena, mas até o fim nunca deixou de se preocupar com os seus afilhados artisticamente..., assim esta grande dama ainda vive na memória de todos os artistas que faz a historia da arte local; sua vida e amor à arte amealhou aquele que é um dos maiores acervos de arte contemporânea do centro-oeste deste pais; no inicio da década de 80 na extinta casa grande galeria de arte situada na rua 08 no centro de Goiânia ela reunia nas manhãs de sábado em saboroso bate papo com os artistas  Siron Franco, Antonio Poteiro,D.J.Oliveira, Roosevelt Oliveira, Amaury Menezes, Omar Souto e tantos outros..., e eu no limiar de minha primeira juventude me infiltrava entre estes grandes vultos da rate em nosso estado para aprender sobre o oficio da arte. Nas paredes da Galeria Casa Grande Célia expôs dentre tantos proeminentes artistas brasileiros, nomes como Cláudio Tozzi,Glauco Pinto de Morais, Amélia Tolêdo, Zaragoza, Nilton Rezende, Aldemir Martins,Luiz Áquila, etc. e de todos eles adquiriu obras para que Goiás pudesse abrigar obras de nomes históricos das artes plásticas do Brasil; Este estado hoje está maduro artisticamente falando, no entanto grande parcela da nova geração desconhece e até desrespeitam a nossa própria historia cultural, mas, como a historia do tempo se analisa em uma auto-reflexão ao completar um circulo de 100 anos, (autofagia) sou otimista de que num breve futuro ao se recensear a nossa história, os nomes de quem trabalha com paixão, respeito, verdade e profissionalismo encontrará seu lugar de respeito no sedimento social; o rico acervo de obras de arte que Célia Câmara legou ao estado de Goiás, em meu entender, deveria estar sendo exposto em um lugar público, sob a chancela e os cuidados da família Câmara; A cultura do estado ganharia muito com isto, o estado poderia criar uma infra-estrutura sólida para abrigar um acervo de alto valor cultural que foi curado ao longo de muitos anos pela valorosa marchand, ainda é tempo de reunir estas obras que talvez estejam pulverizadas, espalhadas, separadas de seu conjunto de origem,  e presentear o publico goiano com este acervo único. Uma coleção que não pode deixar de ser percebida e assimilada pela geração Contemporânea.

 
Nonatto Coelho
coelhononato@yahoo.com.br
nonattocoelho.com

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