Drama familiar em Goiânia
Pai sequestra própria filha e rouba monomotor. Avião cai no estacionamento de um shopping de Goiânia. Os dois morrem.

Um drama termina com um desfecho trágico em Goiânia. Desde a noite de quinta-feira (12), o Brasil tenta entender como um pai pôde jogar a mulher de um carro andando, roubar um monomotor e sequestrar a própria filha.
Depois de pouco mais de uma hora dando voos rasantes no Aeroporto de Goiânia, o avião caiu no estacionamento do maior de shopping da cidade. Os dois morreram na hora.
O voo foi gravado. As imagens vão ajudar a polícia a esclarecer se Kleber Barbosa da Silva arremessou ou não o avião contra o estacionamento.
No Aeroporto de Goiânia, funcionários registraram imagens do avião dando voos rasantes. As manobras assustaram um cinegrafista amador. “Vai cair”, disse ele.
Funcionários se apressaram para tirar todo o combustível próximo ao pátio do aeroporto.
“A gente tirou os caminhões de abastecimento da rota do avião e pôs no estacionamento lá embaixo para não acontecer coisas piores. Tem 24 anos que eu trabalho no aeroporto e nunca vi uma coisa dessas”, afirmou um funcionário do aeroporto.
Até a torre de controle foi evacuada. “A intenção dele era bater na torre. Ao se aproximar na torre, ele deu uma manobra evasiva para a direita”, afirmou o coronel da Aeronáutica, Milton Ananias.
O avião foi roubado no meio da tarde de quinta-feira (12) num aeroclube em Luziânia, no entorno de Brasília. Segundo o diretor do aeroclube, Kléber Barbosa da Silva enganou o piloto dizendo que queria fazer um voo panorâmico com a filha, de 5 anos.
“Quando ele dirigiu para iniciar o voo, na cabeceira de pista ele acionou um revólver em cima do piloto, retirou-o de cima da aeronave e assumiu o controle da mesma”, contou João Abreu, diretor do Aeroclube de Brasília.
Com o monomotor, fabricado pela Embraer, Kleber seguiu em direção a Goiânia. Ao lado dele, estava a filha Penélope Barbosa Correia. Assim que foi notificada do roubo, a Força Aérea Brasileira determinou o acompanhamento da aeronave por um Mirrage, que emparelhou com o avião.
Um segundo avião, um Tucano, perseguiu o tempo todo a aeronave roubada, mas ninguém conseguiu fazer contato com Kleber. Os pousos e decolagens no Aeroporto de Goiânia foram suspensos.
O voo, que durou cerca de uma hora, foi filmado por um sargento de dentro do helicóptero da Polícia Militar e mostra o avião sobrevoando bairros da capital. Nas imagens registradas por um cinegrafista amador, o monomotor passa perto de prédios. Minutos depois, perdeu a altura e caiu no estacionamento do Shopping Flamboyant, o maior da cidade.
Kleber e a filha morreram na hora. O avião destruiu árvores. Na queda, 23 carros foram danificados, mas não havia ninguém no estacionamento. “Meu carro está lá embaixo. Por segundos, eu não morri. O estrondo foi o mais terrível do mundo”, apontou o empresário Agner Rodrigues da Costa.
Do heliponto do shopping, o segurança Waldeci Pereira dos Santos viu a queda do avião. “Achei que ele ia pousar, de tão baixo que ele estava. Ele passou e simplesmente caiu dentro do estacionamento”, lembra.
O homem que provocou a tragédia era visto por alguns como depressivo. O casamento de seis anos passava por uma crise. Segundo a polícia, na quinta-feira (12), antes de roubar o avião, Kleber forçou a esposa e a filha a entrarem no carro. Quando a família estava na rodovia, o casal discutiu. Kleber agrediu Érica Mota com o extintor de incêndio e, com o veículo ainda em movimento, ela foi jogada na pista.
O policial rodoviário federal Rodrigo Lobo, que socorreu a esposa de Kleber, disse que a única preocupação dela era com filha. “Ela estava temerária com relação à integridade física da criança, já que seu companheiro fez isso com ela”, contou.
Érica está internada em um hospital de Goiânia. Na fuga, Kleber desligou o rádio e o transponder do avião. Mas o policial Adão Mota, que é tio da Érica, conseguiu falar com ele por celular para tentar evitar a tragédia.
“Por duas vezes, eu tentei, mas ele não ouvia. Ele estava determinado. Ele chegou a comentar que queria se suicidar”, revelou o tio de Érica.
Kleber era acusado de estuprar menina de 13 anos
O pai era procurado pela polícia desde o começo da semana. A Polícia Civil solicitou na terça-feira passada a prisão temporária de pessoas de Kleber Barbosa da Silva, de 31 anos. Ele é acusado de estuprar uma garota de 13 anos em Aparecida de Goiânia, município da Região Metropolitana da capital goiana. A polícia chegou até Kleber por meio de uma algumas informações, como a placa do carro dele.
“A Polícia Civil de Goiás esteve bem próxima do Kleber. Após o estupro, a placa do veículo dele foi anotada. É isso que nos leva a crer que teria sido o estopim de toda essa tragédia, porque o Kleber estava vivendo em conflito com a companheira dele e estava desempregado. Aliás, segundo informações e investigações, ele nunca trabalhou. Acreditamos que, sabendo ia ser identificado como autor desse hediondo crime de estupro, ele resolveu pôr fim a sua vida e covardemente levou a mulher e a filha de 5 anos”, afirmou o delegado Manoel Borges.
A polícia já tem montado todo o quebra-cabeça da trajetória de Kleber nas últimas horas até a tragédia final.
“Nós traçamos a sinopse cronológica dos fatos. No dia do fato, quinta-feira (12), por volta das 11h ele convidou a esposa e a filha para um passeio na cidade de Anápolis, que fica aproximadamente a 45 quilômetros da capital. No percurso, no km 118 da BR-153, ele atirou do carro, espancou cruel e covardemente com o extintor a mulher e de lá ele seguiu para a cidade de Luziânia, que fica a mais ou menos 180 quilômetros da capital. Lá ele alugou a aeronave e depois rendeu o instrutor, se apoderando ilicitamente do avião”, contou o delegado Manoel Borges.
A Polícia Civil aguarda uma autorização dos médicos para ouvir a esposa de Kleber Barbosa, Érica Correia, de 24 anos. Ela pode ajudar a esclarecer o crime. De acordo com o hospital, o estado de saúde dela é regular. Érica está na enfermaria do hospital e ainda não foi submetia a qualquer cirurgia.
Intenção de Kleber pode ter sido jogar a aeronave na entrada do shopping
Não sobrou nada dos destroços do monomotor que caiu no estacionamento do shopping em Goiânia, inclusive poltronas retorcidas da aeronave. A área continua isolada por seguranças do próprio shopping e da Polícia Militar.
Ao redor, é possível ver também o outro cenário da tragédia, que são os carros de clientes que estavam estacionados na entrada principal do shopping.
O carro que foi mais danificado, segundo a própria polícia, foi uma caminhonete, que chegou a ser atingida pela aeronave. Os tetos dos veículos e árvores foram arrancados durante a queda. Uma das árvores foi o primeiro objeto a ser atingida durante a queda.
Depois, o piloto seguiu até atingir outros carros da área do estacionamento.
A Anac informou que o piloto Kléber Barbosa não tem brevê, ou seja, não tem autorização para pilotar uma aeronave.
O delegado Manoel Borges informou, inclusive, que a polícia investiga outra hipótese, outra suspeita, de que Kleber tinha a intenção de entrar no shopping com a aeronave.
Inclusive o próprio trajeto, pelo sentido da queda da aeronave, leva a Polícia Civil e outros investigadores da Polícia Federal e também da Anac de que a intenção de Kleber era jogar a aeronave na entrada principal do shopping e ele não teria conseguido fazer isso por causa do combustível, que teria chegado ao fim e a falta dele, segundo especialistas, ajuda a explicar por que o monomotor não explodiu no local do acidente.
Segundo informações da direção do shopping center, cerca de 10 mil pessoas estavam no local fazendo compras, lanchando e até mesmo ao cinema.
Proprietários de alguns carros só ficaram sabendo do acidente depois que saíram do cinema e viram os destroços.
A parte da entrada é uma área bastante movimentada porque existe um local onde os clientes pagam o estacionamento.
As pessoas disseram, inclusive, que escaparam por pouco. Os clientes que estavam entrando no shopping através da portaria viram o avião caindo na região do estacionamento.
Fonte: g1.globo.com
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