A greve do IFG e a luta por um mundo melhor
Dom Pedro II, naquele tempo do império, declarou: “Se eu não fosse imperador, desejaria ser professor.

Dom Pedro II, naquele tempo do império, declarou: “Se eu não fosse imperador, desejaria ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências juvenis e preparar os homens do futuro”.
Olhando para o pensamento de Sua Majestade, me atento para a palavra “missão” e a expressão “homens do futuro”. Começo então a refletir entre o que aproxima o servidor professor e o servidor técnico-administrativo no âmbito do serviço público na Educação. Considero que, apesar de que cada um tenha suas diferentes atribuições específicas, e aí no pensamento de Dom João fica caracterizada a do docente - a “direção das inteligências”- o preparo dos homens do futuro, da formação do cidadão, e em maior instância, a cidadania, é o objetivo maior e o campo comum de atuação de todos os servidores da Educação.
Em minha atuação como servidor técnico-administrativo no Campus de Inhumas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG), sempre pautei minhas condutas no sentido de desenvolver minhas atribuições técnicas e específicas da minha área de atuação, mas também a partir dela colaborar com os processos educativos do Campus.
Diante disso, não acho que seja mero acaso estarmos todos juntos nesta luta por liberdade, igualdade e fraternidade em que nos encontramos, docentes e técnicos. Estamos juntos pela Educação. Quando me vi frente a este movimento de greve, e comecei a buscar minhas motivações para apoiar o movimento, a principal delas foi a de que, para que estar onde estou, da forma em que estou, alguém precisou lutar pelos meus direitos. Lembro-me de falar logo no início da greve com uma servidora de que eu não tinha perfil sindicalista nenhum e que, caso não existissem pessoas para lutar pelos meus direitos, possivelmente logo meu salário estaria equiparado ao mínimo de tão defasado e eu não teria mexido uma palha diante desta realidade. Então, dentro de minhas possibilidades e limites, vesti a camisa. Fui às ruas, a Brasília, colaborei financeiramente, tentei participar das discussões e assembleias, preparei atividades educativas sobre Cidadania para desenvolver com os alunos do Campus, no intuito de que eles também se apropriassem deste momento para uma formação de consciência política e cidadã, etc.
Recentemente, estudando um artigo de Fátima Namen com reflexões sobre a educação de profissionais da área de saúde, me deparei com falas do professor Pedro Demo. Ele pondera que “uma sociedade onde o professor é maltratado, obviamente é uma sociedade indigna, que não quer se desenvolver. Se você não resgata o professor, não resgata a Educação. Se o professor não é incluído, como ele pode ajudar a promover a inclusão”? Demo insiste que” o poder parece não estar interessado em mudar, o sistema prefere uma política social de domesticação”, e considera que “uma forma de domesticar o professor é por exemplo, pagando-o mal, formando-o mal”. Gostaria de estender essas ponderações também aos outros comprometidos com a Educação, que somos nós, os técnicos-administrativos. Também estamos comprometidos com os processos de inclusão na Educação. E me pergunto em seguida quem estaria interessado nessa união entre docentes e técnicos-administrativos. O governo? Creio que não. Isso fica evidente quando o governo tenta sufocar nosso movimento. No Ministério do Planejamento somos pisoteados e nosso ministro da Educação Fernando Haddad não toma nenhum atitude. Eu fico me perguntando como formar cidadãos, se nós mesmos não estamos conseguindo exercer nossa cidadania?
Em sua coluna “Linha de frente” da revista Carta Capital de 24/08/2011, Wálter Fanganianello faz reflexões em honra à juíza Patrícia Acioli. Faz um paralelo entre o crime organizado no Brasil e a Máfia Siciliana, pelo viés da omertà (lei do silêncio), definida como “solidariedade pelo medo” pelo escritor Leonardo Sciascia. Tanto aqui quanto lá, para difundir o temor, a Máfia e o crime organizado produzem vítimas anônimas e cadáveres de excelência, como no caso dos juízes. .” Será que existe alguma diferença com o que os trabalhadores brasileiros vêm sofrendo da parte do governo, em seus movimentos recentes? Wálter, desolado, pondera que, exemplar na sua função, a juíza Patrícia não será a última mártir na luta contra o crime organizado no Brasil. E conclui com o seguinte pensamento de Paolo Borsellino, magistrado que foi assassinado na luta contra os chefões da máfia siciliana: “É belo morrer por aquilo que se crê. Quem tem medo morre a cada dia. Quem não tem medo morre uma vez só”.
A meu ver, a partir deste momento em que nos encontramos, nossa motivação nesta greve deve estar voltada à nossa confiança de que estamos em busca de liberdade interior em meio à sociedade do consumo e da injustiça. Devemos nos apegar aos nossos valores maiores, lembrar que o que nos motiva não é a ganância, mas sim um sentimento de justiça e exercício de cidadania, e a esperança em um mundo melhor. Portanto entendo que talvez seja momento para reestruturar nosso movimento e integrar novos valores, mas sempre sob a perspectiva da unidade. União gera força.
Lucas Amorim, da seção “Como fazer” da revista Exame, nos brinda com as considerações de algumas lideranças bem sucedidas na edição de nº 998 de agosto de 2011, acerca da questão da reestruturação e da integração em processos de mudança, como Cledorvino Belini e Fábio Barbosa. Belini, presidente da Fiat, reestruturou a montadora a partir de 2004 e considera que o que se deve fazer é problematizar para se assumir uma posição, saber onde se está pisando, trazer para a mesa tudo o que está debaixo do tapete. Refletir sobre “qual é a força que temos em termos de pessoas e recursos, quais são os riscos e as oportunidades”. Fábio Barbosa, presidente do conselho do Santander, que conduziu grandes fusões entre bancos, pesa que “o processo de mudança não é indolor” e que é preciso “ter consistência nos discursos e coerência nas atitudes”. Brincalhão, reforça ainda que “quem gosta de mudança é empresa de transporte”.
Finalizando, quero dizer que quem enxerga nesta greve apenas uma luta por aumento da parte do servidor, com certeza está precisando ampliar os horizontes do olhar e começar a pensar em contribuir para a transformação do mundo. Trata-se, acima de tudo, de uma luta por justiça e direitos do cidadão.
Leonardo Essado Rios
Cirurgião Dentista - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás - Campus Inhumas
e-mail: dr.leonardo-ifg@hotmail.com
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