Publicado em 30/11/2011 04:04

O escândalo do desleixo

Você se lembra da primeira vez que falou num celular? Não foi o máximo? Hoje celular é rotina, faz parte de nossas vidas e ninguém mais repara neles.

Você se lembra da primeira vez que falou num celular? Não foi o máximo? Hoje celular é rotina, faz parte de nossas vidas e ninguém mais repara neles. O trato diário com o celular banalizou esse aparelhinho fantástico. Uma vez escrevi um texto sobre uma experiência num Pronto Socorro, quando um médico friamente me comunicou que meu vizinho havia morrido. Jamais me conformei com aquela frieza. Depois refleti que o que era novidade para mim, era a rotina daquele médico. O trato diário com a dor, banalizou as tragédias. Houve um tempo em que assassinatos, estupros e seqüestros eram tratados como escândalos. Hoje são notícias comuns, até mesmo esperadas, jogadas em nossas salas de visita diariamente.

Ninguém mais se espanta. O trato diário com as tragédias banalizou a violência. E briga em campo de futebol? E menor abandonado? E motoqueiro atropelado? E corrupção no serviço público? É assim que gente funciona. Por mais incômodo que seja a situação, ao lidar com ele freqüentemente criamos familiaridade. E
familiaridade banaliza. E aquilo que um dia foi um escândalo, vira normal!...
Pois o que tenho visto no Brasil é exatamente isso. A banalização generalizada em setores importantes, acabando por matar nosso senso de indignação. Preferimos rir a nos indignar. Pegaram um com dólar na cueca. Depois outro com sete malas. Aí o tal Valério movimentou mais de um bilhão... E vamos num crescente, tratando a corrupção como algo endêmico, conformados: “Ah, mas o Brasil é assim mesmo”...
Aí, quando um sujeito faz escândalo com o caixa do banco ao ficar 30 minutos na fila, censuramos o escandaloso, não é? Pois é aí que pega.

O brasileiro deveria reaprender a se escandalizar. Devíamos ficar escandalizados com as demonstrações de desleixo, mal caráter, burrice, com tudo aquilo, enfim, com que nos incomoda. E o escândalo vira berreiro, o berreiro vira mobilização, a mobilização vira ação. Mudamos nosso comportamento para mudar o Brasil.
Pois aqui fica minha recomendação. Antes de xingar, achar graça, conformar-se, reclamar ou fazer uma piada, escandalize-se! E não precisa fazer um escândalo público, armar um barraco, rodar a baiana.
Apenas escandalize-se, silenciosamente, lá no fundo da alma. Sinta aquele gosto estranho na boca, o coração batendo forte, a fúria tomando conta de seu corpo. E pra desbafar, grite! Quem estiver perto pensará que você é louco?
Fique frio. É assim  que começa....


Luciano Pires
Jornalista, escritor, conferencista e cartunista


Fonte:
Sader Calil - Jornal O Goianão
sadercalil@uol.com.br
(062)3511-2076
Curso Superior em Jornalismo pela Universidade Federal de Goiás
Jornalista reconhecido regionalmente por seu trabalho executado em Inhumas e região através do Jornal Goianão.
Sr. Sader é também professor aposentado da rede pública de ensino.

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