Publicado em 18/03/2009 11:22

Prova da UFG terá mudanças

Decorar tabela periódica e cantar versos compostos com fórmulas físicas e matemáticas aos poucos tem deixado de ser método para estudantes obterem sucesso em vestibulares.

Decorar tabela periódica e cantar versos compostos com fórmulas físicas e matemáticas aos poucos tem deixado de ser método para estudantes obterem sucesso em vestibulares. Instituições de ensino superior têm optado por cobrar conhecimentos de forma integrada, ao colocar as diversas disciplinas em diálogo. A Universidade Federal de Goiás (UFG) segue esta tendência e nos últimos dois processos seletivos introduziu questões interdisciplinares nas provas. Para o próximo concurso, a instituição ampliará de 20% para 30% esse tipo de conteúdo.

 

A universidade intenciona aproximar a realidade do estudante com o mundo da vida e da ciência. Na prática, significa associar saberes científicos presentes nas diferentes disciplinas oferecidas no ensino médio e contextualizá-los com temas da atualidade. A mudança fundamenta-se no fato de que os fenômenos não acontecem separadamente na natureza.

 

A UFG tem promovido encontros periódicos com escolas de ensino médio, públicas e particulares, para tratar de assuntos relativos ao tipo de questões das provas, correção de exercícios e temas de redação. As reuniões objetivam influenciar o ensino médio de forma positiva. O reitor da UFG, Edward Madureira Brasil, defende que a universidade deve “dar o tom” da mudança no vestibular porque colégios e cursinhos oferecem conteúdos conforme o cobrado pela prova. “Medidas para suavizar o processo seletivo são bem-vindas e devem ser aplicadas”, diz.

 

Na última quarta-feira (11), o ministro Fernando Haddad criticou elaboração dos vestibulares e acertou com reitores a montagem de grupo para desenvolver novo modelo avaliativo. Em reunião com a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Haddad argumentou que as provas têm influenciado mal o ensino médio, com educação voltada para memorização em detrimento do raciocínio. Como os conteúdos cobrados no vestibular pautam as escolas, acaba que boas instituições têm piorado a qualidade de ensino para se adequar ao exigido no concurso.

 

A preocupação do ministro coincide com entendimento do presidente do Conselho Estadual de Educação, Marcos Elias Moreira. “O vestibular precisa valorizar conhecimentos em relação à realidade concreta das coisas”, diz. Elias defende mudanças tanto na forma de ensinar quanto como cobrar conteúdos e prega substituição do “ensino livresco” aplicado no ensino médio pela construção do saber. “A leitura generalizada pela sociedade de que escola boa é a que aprova no vestibular também tem de ser superada.”

UCG e UEG priorizam metodologia

As universidades Católica (UCG) e Estadual (UEG) de Goiás também têm procurado adequar conteúdos cobrados nas provas de vestibular ao mundo vivido pelos estudantes. As mudanças visam conferir às provas características que extrapolem a memorização.


Na UEG, 20% das vagas oferecidas no último concurso foram destinadas aos candidatos que se inscreveram no Programa de Avaliação Seriada (PAS). Nesse modelo de vestibular, o estudante realiza provas ao final de cada ano letivo do ensino médio. O sistema viabiliza análise mais ampla dos conhecimentos exigidos e melhor seleciona pessoas com perfil esperado pela instituição.


“Temos trabalhado para elaborar maior número de questões interdisciplinares a cada ano, mas a mudança leva tempo de adaptação por parte da organização do vestibular, das escolas, professores e estudantes”, diz a gerente Acadêmica do Núcleo de Seleção da UEG, Eliana Machado. A universidade realiza encontros anuais com professores do ensino médio para discutir o processo seletivo, assim como a UCG.


Desde o processo seletivo realizado no início do ano anterior que a Católica organiza questões da prova em grandes grupos de saberes: linguagens e códigos, ciências sociais, ciências da natureza, matemática, língua estrangeira e redação.
Pautada pelas diretrizes do Ministério da Educação, a UCG procura conciliar recomendações governamentais acerca de conhecimentos considerados necessários para o candidato ingressar em curso superior com orientações discutidas junto a representantes de colégios. “Não adianta jogar a culpa no outro: a universidade dizer que a escola não prepara e o colégio responder que o vestibular é ruim”, diz a coordenadora da Comissão de Admissão Discente da UCG, Suely Vieira Lopes.

Aluno resolve exercício, mas não entende aplicação

O estudante Mateus Silva, 15, conhece bem a realidade de provas voltadas ao decoreba. Ele ainda cursa segundo ano do ensino médio em escola particular e já se sente pressionado para ser aceito por alguma faculdade. Em sala de aula e nas provas, responde diariamente exercícios retirados de vestibulares passados.


No último domingo (15), respondeu simulado com todas as matérias. As questões foram na íntegra retiradas de provas de vestibular. Para amenizar a pressão, Mateus optou por se inscrever em processos seletivos de universidades que valorizam a interdisciplinaridade. “É melhor para entender a formulação do exercício. Valoriza quem procura aprender além do que os livros didáticos ensinam”, diz.


Hoje estudante de mestrado em Química, Tiago Eduardo Pereira Alves, 25, também se sentiu pressionado quando prestou vestibular. “O estudante é capaz de resolver o exercício, mas ele não sabe qual é a aplicação no cotidiano”, critica. A pressão exercida pelo vestibular não foi sentida pelo estudante João Victor Portelinha de Oliveira, 9, aprovado no processo seletivo de uma universidade particular, há pouco mais de 1 ano. O garoto fez prova pelo sistema agendado, em que o candidato vai à instituição, responde questões diretamente no computador e escreve redação.


A aprovação do menino repercutiu negativamente e abriu discussão sobre a validade dos vestibulares como meio de selecionar por mérito os candidatos melhor preparados. A seccional goiana da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) chegou a divulgar nota na qual explicitava preocupação com o fato de uma criança conseguir ser aprovada em vestibular para o curso de Direito. Passada a euforia e a exposição do feito, João Victor mantém-se irredutível quanto à realização do maior sonho que tem: ser juiz federal.


Ele está no 6° ano do ensino fundamental e continua com a mesma dedicação aos livros. Mas mudou de ideia em relação à instituição responsável pela formação superior. Agora, ele se contenta somente em passar no vestibular de universidades públicas.

 

Fonte: DM

Alfredo Mergulhão
da editoria de Cidades

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